O etarismo faz sua empresa perder bons profissionais?

O etarismo faz sua empresa perder bons profissionais?

Data de publicação: 27/03/2023

O mercado de trabalho está em constante mudança, e hoje, muitas empresas contratam pessoas 50+ justamente porque a experiência pode agregar, e muito, para o negócio seguir lucrativo e competitivo



CDL Cachoeiro

Viralizou na internet, este mês, um vídeo no qual estudantes universitárias de São Paulo debochavam de uma colega de sala pelo simples fato de ela ter 40 anos. As alunas chegaram a dizer que, com aquela idade, ela já deveria estar aposentada e não possuía mais espaço e nem o direito de estar ali. O ato praticado pelas estudantes se chama etarismo, que consiste em uma forma de discriminação de pessoas pela idade que possui. Segundo um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde), uma a cada seis pessoas já sofreu algum tipo de discriminação por sua idade.

O etarismo pode ocorrer em vários lugares – escolas, faculdades, no âmbito familiar etc. –, mas é no mercado de trabalho que essa discriminação tira a oportunidade de profissionais maiores de 40 ou 50 anos (que vamos chamar de 50+) mostrar sua capacidade, experiência e sabedoria. Rachel Alvarez, especialista em carreiras e treinadora de processos seletivos no exterior, comenta que dentro do mercado de trabalho existem duas visões sobre o tema: uma parcela das empresas valoriza esses profissionais e busca por eles, pois sabe que eles podem agregar muito à equipe; já a outra parte ainda está muito mal preparada para receber esse grupo.

 

“O que eu percebo é que as empresas que estão muito mal preparadas para receber os profissionais 50+ também possuem uma certa tendência a não ser um bom local para se trabalhar. Possuem pensamentos e ações retrógradas, como se vivesse no passado, e não procuram se atualizar no próprio mercado de trabalho”, explica Rachel Alvarez. “E isso é ruim para o negócio, pois o mercado está cada vez mais receptivo e aquecido para esse grupo de profissionais”.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que os brasileiros estão vivendo mais: as mulheres chegando aos 80 anos e os homens aos 76. A título de comparação, em 1940, a expectativa de vida era de 45 anos. Com mais tempo e qualidade de vida, alguns optam por se aposentar e ter mais tempo para curtir a vida, enquanto outros estão longe de querer isso: preferem seguir trabalhando e até mesmo se aventurar em novos setores e começar uma nova carreira.

“O que estamos fazendo quando contratamos pessoas 50+ é preparar a empresa para uma realidade que está bem à nossa porta, já que em 2040, 57% da força de trabalho terá mais de 45 anos, conforme estimativa do IBGE”, conta Soraya Calvo, consultora de RH (Recursos Humanos), psicóloga e especialista em Gestão de Pessoas e Psicologia Positiva.

Profissionais com mais bagagem agregam muito à equipe
O mercado de trabalho está em constante mudança, e hoje, muitas empresas contratam pessoas 50+ justamente porque a experiência pode agregar, e muito, para o negócio seguir lucrativo e competitivo.

“Quando se monta equipes intergeracionais, ganha-se muito em termos de criatividade, inovação, melhora o clima organizacional, redução da taxa de turnover e melhora-se o resultado financeiro da empresa. Todos ganham, porque pessoas com referenciais diferentes trazem visões de mundo diferentes e propõem soluções diferentes para os desafios que as companhias precisam enfrentar o tempo todo. Vivemos a era dos problemas complexos e problemas complexos só se resolvem com times diversos”, avalia Soraya Calvo.

No Brasil, 26,1% da população tem entre 50 e 64 anos e 10,2% com 65 anos ou mais de idade (IBGE). Os números do Ministério do Trabalho e Previdência, com base na RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), mostram que, em 2006, profissionais com mais de 50 anos representavam 12,6% dos postos ocupados. Em 2020, esse índice saltou para 19%. Em números absolutos, o salto, no período, foi de 4,4 milhões para 8,7 milhões de trabalhadores.

De acordo com Rachel Alvarez, que é especialista em carreira no exterior, o mercado internacional está mais avançado e preparado para receber uma pessoa mais velha na empresa. “A janela de oportunidade e visibilidade é muito maior. A pessoa precisa saber como se posicionar e se mostrar no momento da entrevista, mostrando toda a experiência e poder de valor que ela possui”, ressalta.

Alvarez explica também que uma das vantagens de se contratar pessoas desse grupo é que elas têm visão diferenciada e consideram os cenários de curto, médio e longo prazo, devido à bagagem profissional e de vida. “E isso pode ser combinado com a experiência da pessoa e gera uma via de mão dupla dentro da empresa, onde profissionais de diferentes gerações vão aprender e compartilhar suas experiências e habilidades”, afirma a especialista em carreiras no exterior.

Outras habilidades do 50+ que se destacam:
● Rapidez na tomada de decisões e na resolução de problemas;
● Pensamento mais ágil e analítico;
● Habilidade em lidar com pessoas;
● Assertividade;
● Maior habilidade de lidar com clientes;
● O aprendizado ocorre de maneira mais rápida;
● Conhecimento e vivência na área de atuação;
● Maior segurança na hora de realizar tarefas e tomar decisões.

“Essas pessoas podem agregar valor à empresa, pois têm um certo desenvolvimento e naturalidade de lidar com pessoas e situações, uma vez que se encontram inseridas no mercado há muito tempo. Sabem gerenciar e até se integrar a uma nova equipe de uma maneira muito rápida, podendo se tornar peça-chave da empresa e passando mais confiança e autoridade, seja no mercado ou lidando com clientes”, observa Rachel.

A psicóloga acrescenta ainda que contratar pessoas acima de 50 anos pode: melhorar a imagem da empresa, mostrando o seu compromisso com a diversidade e a inclusão; e consequentemente, atrair clientes que valorizam esses valores.

 

“A contratação de pessoas acima de 50 anos pode trazer muitos benefícios para as empresas, incluindo a oferta de experiência e conhecimento, estabilidade, redução de custos, diversidade de perspectivas e uma imagem positiva da empresa”, resume Soraya Calvo.


Como combater a discriminação etária?
O combate ao etarismo no mercado de trabalho passa, especialmente, pela qualificação e preparação do time. É preciso mostrar e valorizar o trabalho e experiência dos profissionais 50+ para o ambiente empresarial. Além disso, os profissionais de RH precisam estar aptos a escutarem suas necessidades, acolherem suas dores e sempre tentar dar uma solução para as temáticas levadas pela equipe.

O combate a esse problema também pode começar no processo seletivo. Alguns empresários e gestores têm receio de que esses candidatos, por serem mais experientes, exijam salários ou benefícios maiores e diferenciados, entretanto, Rachel Alvarez alerta que, quando a pessoa se candidata para a vaga, já sabe o que a empresa está oferecendo, então, descartar essa pessoa logo de cara pode significar uma perda muito grande. A especialista lembra que a conversa é sempre importante e que as coisas podem ser negociáveis.

Reportagem: Gabriella Tomaz
Edição: Fernanda Peregrino

Por: Varejo S.A

Fonte: https://cndl.org.br/varejosa/o-etarismo-faz-sua-empresa-perder-bons-profissionais/

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